Que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que anseio,
que a morte de tudo em que acredito
não me tape os ouvidos e a boca,
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
seja linda ainda que tristeza,
que a mulher que amo seja pra sempre amada,
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida
mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a única coisa
que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço,
e que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso,
mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável,
que o espelho reflita em meu rosto num doce sorriso
que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
a outra metade não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
pra me fazer aquietar o espírito,
e que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
mesmo que ela não saiba,
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer.
porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada,
porque metade de mim é amor,
e a outra metade também.
Que as palavras que eu digo, não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas... Como a unica coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Metade (Oswaldo Montenegro)
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